Segundo Gabor Maté, “ trauma não é o que acontece com você, é o que acontece dentro de você, como resultado do que aconteceu com você. Trauma é aquela cicatriz que te deixa menos flexível, mais rígido, menos sentimental e mais defendido.”
Não é de hoje que se pesquisa sobre o trauma, ou se fala dele. Desde que somos viventes, somos assolados por guerras, pestes, acidentes naturais que nos levam ao limite.
Mas há traumas grandes, que devastam milhares de pessoas ao mesmo tempo, e há aqueles que são gerados em nosso dia a dia, porque não é fácil para ninguém ser pai ou mãe e não é fácil perceber tudo o que faltou ou que foi excessivo ao longo da criação, a não ser que você tenha vivido num lar completamente disfuncional ou que tenha sofrido algum tipo de abuso ao longo da vida.
Alguns dos nossos traumas são questões familiares tão antigas que são passados de geração em geração como um tesouro que ninguém ousa tocar, mexer ou modificar. Outros encontram heróis da própria história e da história familiar que conseguem transformar e resignificar aquilo que nem de longe deveria seguir sendo presente.
Então, resumindo há grandes traumas e pequenos traumas… mas para quem os vive, nem de longe parecem ser pequenos. Pelo contrário são tão diários, que são assustadores.
Estudando as reações encontradas em pessoas que vivem grandes traumas, percebi que independente de ser uma catástrofe natural ou parte da nossa criação, as reações são muito similares, apesar de mais atenuadas.
Vivemos nossa existência alicerçados na pirâmide do pensar, sentir e agir. Quando o peso recai mais pra um destes, já podemos vislumbrar a configuração de uma defensiva.
Logo, pessoas que estão sempre fazendo algo. Coisa muito estimulada pela cultura, produzir, produzir, produzir… fazem, pensam depois (quando pensam…). Mas será que se escutam? Ou partem para o fazer mais uma vez, para evitar o pensar ou o sentir?
Tendo o tempo dedicado a produzir, o sentir perde espaço. E se olhar em volta, você também notará muitos corpos doentes habitados por mentes aceleradas. Isso por si só, já serve como uma boa mostra do nosso grau de anestesia.
Segundo Bessel Van Der Kolk as pessoas que fazem muito, que ele chama de “alexitímicos”, “em vez de sentir raiva ou tristeza, sentem dores musculares, distúrbios intestinais ou outros sintomas para os quais não há motivos”. O mesmo autor segue pontuando,
“sintomas somáticos sem causas físicas claras são mais do que comuns entre crianças e adultos traumatizados. Entre eles contam-se dor crônica nas costas e no pescoço, fibromialgia, enxaqueca, problemas gastrointestinais, síndrome do cólon irritável, fadiga crônica e alguns tipos de asma.”
Quantas pessoas me procuram por conta de dores crônicas? Quase que a totalidade do meu público é composto por pessoas que vieram por conta da dor. A grande questão é começar a perguntar o que a dor esconde.
Às vezes a dor está tão entranhada no sistema familiar que a única possibilidade é viver com ela e buscar subterfúgios ocasionais para apaziguá-la.
Se você está lendo este texto, questione-se. Como a dor aparece para você? Em que parte do corpo? É frequente? É matinal? Alguém sentia essa mesma dor na sua família?
E qual o papel do fazer no seu dia a dia? Do pensar? E do sentir? Você consegue usar seus sentidos e suas sensações de modo a compreender como está com essa ou aquela pessoa, neste ou naquele lugar, com essa ou aquela comida? É tão comum substituir a linguagem das emoções e das sensações pela ação, que minha sugestão é: comece sua mudança por aí, pelos seus sistemas de auto localização que vem de dentro e assim eles serão seu guia para iluminar o que sua dor esconde… Boa jornada!
