Neste domingo rolou uma live animada pelo tema Folclore e Corpo. Mas, afinal, o que o folclore tem a ver com o corpo?
Sendo baiana e ouvindo desde pequenas histórias sobre os míticos personagens do nosso folclore, ele ganhou um papel especial em minha imaginação e passamos o mês de agosto reverenciando o tema.
Folclore, trocando em miúdos, significa o saber popular e é celebrado no dia 22 de agosto. Seus personagens ganham nomes e formas diversas de acordo com as regiões brasileiras. E para não gerar confusão, abordamos aqueles que são mais comuns: Iara, Curupira ou Caipora, Saci-Pererê, Mula sem cabeça, o Boto cor de rosa e a Cuca.
Por sinal, a Netflix se propôs a fazer uma série incrível com esse tema, chama-se Cidade Invisível.
Iara
Nas nossas tradições populares, a sereia é dona de um lindo canto que hipnotiza quem o ouve. O pescador que cai em suas graças é levado para o fundo do rio e nunca mais retorna. Ela nos fala da fluidez das nossas águas e também das regiões onde nossas águas páram, como no caso das varizes. Aborda ainda a nossa voz e com ela nossa nuca, afinal, uma voz sonora e melodiosa precisa de uma nuca menos apertada…
Curupira ou Caipora
Ele tem cabelos vermelhos, a cabeça aponta para um sentido, seus pés para outro. O Curupira nos traz as dicotomias entre nosso instinto e nossa razão. Nossos ciclos repetitivos e nossa raiva por ter que vive-los. Uma raiva que sobe à cabeça e que culmina num auto-ataque. Afinal, alguns de nossos comportamentos ameaçam nossa própria natureza. E sob ataque o corpo irá se defender, mesmo que seja de nós mesmos…
Saci-Pererê
Brincalhão e divertido, vive pregando peças, bagunçando a ordem. Tem o vento no pé onde se equilibra. Nos conta de nossas próprias confusões, da nossa necessidade de ordenar e também da nossa necessidade de quebrar nossa ordem. Traz ainda o equilíbrio por vezes precário que vivemos.
Pulando num único pé, o saci-pererê guarda a ventania nos pés. A ventania é aquilo que nos move com mais velocidade para diante ou nos confunde deixando tudo espalhado no ar.
O saci nos direciona para um dos nossos centros de equilíbrio, que está nos tornozelos. Quando ficamos instáveis, aceleramos nossos movimentos, na tentativa de manter o equilíbrio. Mas isso nem sempre funciona. E ao invés de obter equilíbrio aumentamos nossa confusão, sensação de instabilidade e ainda corremos o risco de entorses.
Mula sem cabeça
Antigos trazem a mula como o reflexo das mulheres que perdiam a cabe e a virgindade antes do casamento. El traz o cio, a energia avassaladora sexual que, de tanto ser contida nos quadris, sobe à cabeça e assim corre-se sem direção e sem consciência de si. A mula sem cabea faz o convite de perder a cabeça para aquelas que são muito contidas, de soltar os quadris e permitir que o mesmo se mova livremente e, claro, que esse excesso de energia seja descarregado. Descarregar ajuda a não se perder ou deixar o fogo queimar a cabeça.
Boto cor de rosa
Ele deixa as águas para encontrar com mulheres. Sedutor, ele precisa ser visto e ver o encantamento nos olhos das mulheres. Precisa ainda do contato físico, da dança e, claro, do sexo. Escorregadio, foge de encontros que não sejam casuais e em geral, deixam suas mulheres embotadas e grávidas. Essa lena eu chego a pensar que não é lenda, de tão realista e corriqueira no campo do relacionamento amoroso ou sexual.
Cuca
Aquela que faz dormir, em especial as crianças que não dormem, quem leva pro seu caldeirão. A Cuca mostra nossa agitação, nossa agressividade, nossa energia que vai se cozinhando nas noites insones. A insônia como lente o de nossas preocupações e modos, da nossa sensação de incapacidade. E nosso medo de nos perdemos na caverna escura que nos leva à ansiedade.
Brincadeiras
As típicas do folclore não podiam ser diferentes: Esconde-esconde; pega-pega; soltar pipa; vaca-amarela (ficar mudo); cabra-cega; amarelinha; boca de forno (cumprir tarefas). Todas associadas ao frissom da aventura e aà adrenalina de um certo medo.
E aí? Se identificou com algum personagem? Tinha medo de algum? Conte pra gente!
