Em busca da harmonia do corpo

Com a pandemia, fomos obrigados a ficar em casa. A sós, com nossas questões, com nosso olhar incisivo sobre nós mesmos, fomos obrigados a fazer escolhas, que talvez antes, não fossem tão conscientes. Olhar para si nunca foi tarefa fácil. Não nos conhecemos, não queremos, dói um bocado, olhar as feridas, ter que lambê-las, revê-las. Por isso, a sós, optamos por comer, ao invés de voltar o olhar mais aprofundadamente para si. Trabalhar mais, limpar mais, assistir mais séries, filmes, fazer mais reuniões com amigos via zoom ou skype, ou mais reuniões laborais.

O cárcere privado que nossa casa se tornou, revelou-nos um pouco mais de nós mesmos, dos nossos filhos e filhas, dos nossos companheiros e companheiras.

Nunca antes houve tantas comidas proibidas, tanto controle no ato de comer, tanta bebida permitida, tanta classe de yoga, pilates, aeróbica, meditação, constelação… tanto curso disponível.

Entramos numa paranóia com a comida, ao ver nossos corpos se deformando. Mas vejam bem, eles apenas sublinham nossos segredos, os expõem. E nós, como bons samaritanos que somos, nos enchemos de culpa e na falta de quem apontar o dedo, a comida, virou nossa válvula de escape.

Ela que nos nutre, acolhe, nos compensa, nos recompensa, virou criminosa, culpada, por nos trazer um peso inesperado que não queremos e não iremos suportar!

Mas, pare um pouco esse texto agora. Se olhe no espelho. Se seu corpo fosse um rio, onde a água estaria parada, onde ela correria livre, onde se acumularia, sem saída, onde mal chega?

Nossa harmonia, nosso amor próprio, nosso auto-cuidado deveriam começar por esse olhar reconhecedor. Esse olhar que nos leva a nos re-conhecer, mesmo que não saibamos as razões que nos levaram a nos moldar de uma determinada maneira.

A gordura protege nossas defesas, aquelas montadas desde pequenas e que repetimos até a morte, com alguns ajustes e melhorias. Se ela se concentra no baixo ventre, por exemplo, houve lá atrás uma dificuldade em se ser autêntica. Carregamos no baixo ventre, envolto num manto adiposo, o medo de sermos mais uma vez rejeitados pelo outro. Carregamos a lembrança que há muito tempo, deixamos de gostar de nós mesmos.

Mas veja, isso não é “culpa” da comida. A gordura não é uma vilã. É apenas uma proteção. Há momentos que precisamos mais, outros menos. Então, carboidratos, glúten, laticínios, etc serão sempre vilões, porque a eles associamos nossas mães.

Então, minha questão é: como anda se nutrindo? Saboreando, sentindo o gosto lhe atravessar numa melodia que excita e preenche, ou cheia de neuras? Nutrir-se é uma oportunidade de se oferecer amor, quando o corpo pede por isso. Mas, você tem fome de que? Necessidade de que tipo de amor? Tornar a comida a saída, a descarga, a vilã é uma escolha…fácil. Difícil é saber o que de fato, lhe traz uma harmonia interna, sem mexer na sua forma, sem lhe desnutrir, sem lhe viciar.

Então, como anda sua relação com você mesma? E com a comida?

Estamos aqui, esperando com espelho nos olhos, para que você descubra sua própria harmonia.

 

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