Ontem à noite, da minha janela, vi um rapaz, um catador, surtar. Rapaz, rapaz, ele já não era, estava mais para a casa dos 50… Independente da razão do surto, o que me surpreendeu foi o que ele não parava de gritar. Correndo, buscando em todos os cantos, ele gritava “mãe, cadê você”. Interpelava todas as pessoas que estavam voltando para casa, com gestos raivosos, “cadê minha mãe?”, “onde ela está?” As pessoas fugiam assustadas. Até que um respondeu, “você procura a sua, que eu busco a minha”. Foi aí que ele se sentou e se acalmou. Ele não estava só buscando a mãe. outros também haviam perdido as suas mães, por abandono, por morte ou por qualquer outra razão. De cabeça baixa, ele sentou e chorou. E depois, recomposto, partiu.
A busca desse homem me tocou a alma. Afinal, quem não busca a mãe perdida, aquela que você gostaria de ter tido? Ou até mesmo sua mãe real? Quem não sofreu em maior ou menor grau o abandono?
Demorei muito a crescer, mais ainda para entender que a mãe que precisamos e buscamos está em nós mesmos. Só essa mãe interna poderá dar conta das nossas feridas, das crianças internas que seguem sofrendo com alguma falta.
Com todo amor e respeito a todas as mães, inclusive à minha, nossas mães já fizeram tudo o que podiam, tudo o que foram ensinadas, pelas mães de suas mães ou pela vida, fizeram o possível dentro das condições que tinham. Por amor a ela, devemos pegar a tocha que seguraram com tanto amor e esforço e iluminarmos nosso próprio caminho. Chegou a hora de parar de buscar as mães do lado de fora e iniciar uma busca interna por nossa própria mãe. Ela está dentro de você, desejando, esperando para lhe acolher.