Pessoas sensíveis

Somos todos sensíveis?

Talvez uns mais outros menos, talvez as questões a que somos sensíveis sejam diferentes. Talvez algumas pessoas tenham precisado se dessensibilizar…

Mas, no inverno, a sensibilidade explícita é para quem tem questões respiratórias. Quando cheguei, vinda de um a terra quente, talvez, excessivamente, calorosa, essa São Paulo feita de concreto, de suór e de lágrimas de milhares de imigrantes de todas as partes, causou em mim um grande impacto. Era grande, fria, inconstante…

Minha reação imediata foi uma crise asmática. Percebi que os asmáticos brotam em Sp. E que a poluição daqui não ajuda. O pneumologista que consultei me disse que eu era sensível, que tinha reações dramáticas a coisas que os outros reagiam “adequadamente”. Bem, a verve dramática sempre correu pela minha família…

Foi só mais tarde, ao entrar em contato com a leitura corporal, que aprendi que a asma e a bronquite são uma resposta a uma troca afetiva insatisfatória. Retemos, achando que o outro nos abandonará. A teoria fez muito sentido. Sozinha numa grande capital, que conhecia só como turista, a relação com ela era assustadora e era muito provável que essa mãe dura e imensa, não me acolhesse, mas acolheu. E assim foram embora minhas crises asmáticas…

Mais tarde, veio viver aqui uma amiga baiana, que, acreditem, também sentiu o mesmo… de “profunda“ respiradora, virou asmática, até que a relação com a cidade se assentou…

Quando meu filho nasceu, o médico me disse: “Olha ele é sensível” e, com isso, me disse que ele tinha rinite… E ele é, de fato, sensível. Desde bebê, observa o ambiente, tenta captá-lo inteiro, antes de interagir com ele.. Enquanto ouvia o médico dizer que isso era genético, pensava no trauma gerador de tudo isso, já que minha mãe, minha irmã, eu e agora meu filho, nos repetimos em termos de relação, sempre reagindo de forma dramática… Mas isso é tema para outro post…

A primeira pessoa sensível que conheci fora da minha família foi Ana, uma amiga de longa data, que toda vez que acordava espirava três vezes seguidas. Sempre três vezes, sempre sem pausas, num ritual diário que ela cultiva, sem saber, até hoje. Ela é a pessoa que, com frequência, me dizia, que é preciso compreender e ter paciência com o outro, para que possamos ser atendidas e escutadas. E é incrível sua paciência e sua pluralidade na forma de interagir. Graças a essa pluralidade. Ana sempre dá um jeito de ser atendida e escutada.

Mas, de pessoas sensíveis, a que mais me tocou, não sei quem é, nem sei seu nome. Ela me abordou no aeroporto de Congonhas, quando estava grávida, mas ainda não tinha barriga. Ela maltrapilha, sem dentes, fedida, moradora do local. Estava do lado de fora do aeroporto, quando ela olha pra mim, vem em minha direção, me estende cinquenta reais e diz, pegando na minha barriga: “Aqui está para você cuidar bem, dessa criança que você leva aqui”. Eu, atordoada, com os olhos cheios d´água, vou lhe pedindo por favor, que não fizesse isso. Que era uma grande generosidade dela, mas ia faltar para ela. Ao que ela me réplica, “o importante é que não falte para ele”. E foi embora.

Foi neste dia que aprendi, que quando somos sensíveis nos tornamos generosos conosco, o que nos leva a ser assim com os outros. Doei os cinquenta reais para um instituto ligado à Igreja de São Judas que cuida de crianças abandonadas. E desse dia em diante, fui olhar para as razões de minha sensibilidade, ver o meu invisível, o meu abandono… E todos os dias agradeço a ela, por ter me tocado assim, no coração e ter me deixado mais sensível para mim mesma.


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